Exposição no Memorial une literatura e artes plásticas
Mais de 40 artistas visuais se inspiram na obra de escritores latino-americanos para exposição gratuita no Salão de Atos. A arte traduzindo em imagem o conteúdo de obra literária de um escritor: essa é a proposta da exposição “Encontro da Imagem com a Literatura Latino-americana”, que fica aberta no Salão de Atos do Memorial da América Latina entre 1º de setembro e 1º de outubro. A entrada é gratuita (portões 1, 2 e 5), de terça a domingo, das 9h às 18h.
Cada um dos 43 artistas se inspirou em uma obra literária para produzir em diferentes técnicas: aquarela; óleo; escultura; desenho; instalação; gravura ou fotografia. São trechos de textos de escritores conhecidos pelo público, como Pablo Neruda, Clarice Lispector e Guimarães Rosa, mas também dá espaço a outros mais contemporâneos.
Com curadoria da artista plástica Altina Felício, a exposição propõe-se a comprovar o antigo aforisma de que “o artista torna visível o invisível”. Revela, diz a curadora, “a cumplicidade que existe entre literatura e imagem, abrindo uma porta mágica tanto para os leitores quanto para os artistas potenciais”.
O resultado sempre será surpreendente e aberto a múltiplas interpretações, como, por exemplo, a pintura de Sylvia Soares para “A vida como ela é”, de Nelson Rodrigues. Ou, ainda, “A História de Ruth”, uma sobrevivente da Segunda Guerra Mundial. A autora, ela mesma a personagem do livro, Ruth Tarasantchi, releu sua própria obra em gravura. O trecho que ela escolheu:
Para mim a Segunda Guerra Mundial começou quando ainda estava em Bugojno, na Jugoslavia, a cidadezinha onde morávamos, e vi minha mãe chorando na cozinha… Meu avô paterno, Dedo, tinha sido torturado… Queriam que contasse aonde tinha escondido o ouro que achavam que ele tinha. Arrancaram-lhe todas as unhas das mãos e pés e ele não falou nada.
Outro trabalho emblemático, segundo a curadora, é o que faz o artista Reginaldo Francolino na releitura do livro “Quarto de Despejo”, da escritora Carolina Maria de Jesus, descoberta na favela pelo jornalista e escritor Audálio Dantas. O artista utilizou técnicas mistas para “construir” a imagem de um dos parágrafos mais emocionantes da obra de Carolina:
22 de junho… Faz comida, que eu vou chegar com fome. A frase comida ficou eclodindo dentro do meu cérebro. Parece que o meu pensamento repetia: Comida! Comida! Comida! Dizem que o Brasil já foi bom. Mas eu não sou da época do Brasil bom… Pudera! O medo de morrer de fome!”
A artista Maura de Andrade escolhe o trecho da obra ” O Arco e a Lira ” do escritor mexicano Octavio Paz :
A artista Maura de Andrade escolhe o trecho da obra ” O Arco e a Lira ” do escritor mexicano Octavio Paz :
“O Tempo não está fora de nós, nem é algo que passa à frente de nossos olhos como os ponteiros do relógio: nós somos o tempo, e não os anos mas nós que passamos. O tempo possui uma direção, um sentido, porque ele nada mais é que nós mesmos.”



