O projeto Entre Serras e Águas — memória e poesia, foi uma pesquisa poética realizada em um ano de pandemia. Contemplada pelo Prêmio Funarte Descentrarte, no início do projeto foi possível encontrar com pessoas, praticar canoagem e conhecer artesões, comerciantes e produtores agrícolas, mas a reclusão obrigatória, que não estava no planejamento inicial, exigiu uma adaptação das atividades. Com o isolamento social caminhei algumas vezes pela cidade de Mairiporã, solitária nos percursos, levava comigo material de desenho e equipamento fotográfico.
Nestas caminhadas observei a forma como a cidade se define geograficamente e inspirada pela beleza encontrada em algumas trilhas, vivenciei artisticamente, permitindo-me pertencer naquele tempo e espaços oferecidos.
Em meus registros gráficos, procurei unir minha empatia pelas histórias da região com a experiência do momento. O tempo utilizado não era medido pelas horas, mas pelo que seu entorno presenteava; entre os aromas, sons, sensações do clima e da luz, a criatividade foi sendo estimulada, acrescentando na memória daquele momento algo especial, único e rico de informações, que foram codificados nos cadernos e nas fotografias.
Diante da magnitude das paisagens, meus registros naturalmente foram se direcionando aos detalhes e nas pequenas formas, que deram continuidade em minha pesquisa poética. Abrigada no Estúdio de Arte Cantareira, localizado no meio da floresta Atlântica, trabalhei com a modelagem em cerâmica fria, utilizando-se para os moldes as folhas das árvores e com os galhos, realizei monotipias. Gravei e imprimi as xilogravuras de grandes proporções, como também as que compõe um pequeno livro de artista com edição única, aqui apresentadas.
Através do processo de trabalho aqui apresentado, há o desejo de estimular o leitor a conhecer e criar seus próprios caminhos pela cidade de Mairiporã, utilizando-se de um olhar artístico e poético.
Vamos caminhar e que os olhares se multipliquem em vivências inusitadas!